8 de dez. de 2010

soneto do incompreendido

Faltam sete centímetros para o último papo.
Há um pacto entre eles, que não nos foi revelado.
Então estamos torpes, surdos e desamparados.

Há uma vela que vamos atravessar acesa
não importa a tempestade, o "obrigado por tudo",
o "sinto muito mas não posso dormir aí hoje".

Mas a chuva impede-nos de ver o outro lado.
E ficamos de mal, porque o mau é o incompreendido,
o filantropo que sai às ruas em busca de ajuda

porque não pode mais ajudar ninguém.
E se antes minha fé era entrecortada,
agora ganha contornos de desconfiança.
Desafio o silencioso, o manifesto do desavisado.

Distraio o cão com novas paisagens,
arrombo igrejas nas madrugadas,
falo com os postes sobre as últimas paradas,
sento e espero a sombra avançar na cara.

E quando menos se espera ares de conforto,
recebo um assobio lancinante, aventurado.
Vejo que o ébrio agora quer acordar são.
Que o louco hoje vai comprar uma bicicleta.

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