6 de fev. de 2009

d e c a s a .


Como escrevo num computador portátil, posso criar mais essa convenção pros escritos. De casa, da sala, da rua, da Pedra, que é onde eu mais gosto de escrever.

De casa. Sobre a atuaçåo. O ensaio passado foi sozinho e estou aos poucos começando a me sentir absolutamente sozinho. Preciso aprender a lidar com isso. A coordenadora da Sede falou que eu fico horas a fio dentro daquela sala mas que nem se dá conta. Diz que parece que não tem ninguém lá.

Trabalhei em cima de parágrafos com o corpo relaxado de quem não está sendo visto por ninguém, de quem não tem vaidades para si mesmo e deveria ter.

Passei a estrofe do texto onde eu falo do Lucas . Boas idéías surgem aos poucos.
Não quero mais ficar falando pro Cesar que o ensaio tá “do caralho” porque eu não quero ter que sustentar o adjetivo. Eu estou tatuando aos poucos essas frases em mim como no Livro de Cabeceira do Greenaway. Mas aqui não são tintas, são pontadas.

Estou regulando os fios, a voltagem. Uma imagem surge durante a regulagem. Uma imagem que tem a ver com esses tempos brancos de computadores brancos e televisoes brancas e pouco vermelho.
Uma mesa de som, enorme, dessas de estúdio de gravação, dentro de mim.
Uma mesa de luz, enorme, dessas de show de estádio, dentro de mim. Nesses ensaios poéticos, deve-se convidar os técnicos para a regulagem das máquinas.

De casa, com o peito-geladeira, fico falando de ensaios e promessas que não passam por nenhuma verdade. Como numa conversa onde a gente fala sobre uma coisa pensando em outra.

post.

César, querido, precisamos tomar cuidado com a forte influência que o filme Control e a vida do Ian Curtis repousou sobre nós. Acho que a nossa peça pode ter movimentos mais flúidos e podemos afastar um pouco essa neblina de Manchester. Somos criadores, seja lá o que isso queira dizer, e sabemos da complexidade da vida e todas a sua pluralidade, todas as suas rasteiras. É como se eu começasse a falar da dor que eu estou sentindo nesse documento e já afastasse alguns poucous, e mantivesse os olhos atentos apenas dos que se identificam. Não seria mais interessante, e por isso menos nobre, deixar uma dúvida sobre o meu sofrimento já que a dúvida está em todas as coisas e sem a qual nada pode ser?
E já sacaneando essa dúvida, o talvez, eu quero lembrar, César querido, que temos que ter muita coragem para entrarmos nas neblinas de Manchester e irmos `a fundo nas temáticas que afastarão alguns olhos desatentos mas acolherão a massa desagasalhada. É que no meu último relacionamento com a Rita eu saí perdendendo. E é tão fácil ser um sentimentalista em uma cançao mas num texto tudo complica-se , vem o tempo-e-espaço e diz isso não é mais uma verdade e o seu excesso de sentimentalismo já se assemelha ao seu umbigo. Eu deveria ter ido atrás dela mas a dor era tanta que eu liguei pro meu médico, pedi a receita e corri pra farmácia. Esses remédios são maravilhosos mas desvirtuam a ordem das coisas. Se eu tivesse encarado aquela dor, `a cru, eu teria ido atrás dela e eu não fui. Esse remédio corta a ansiedade, a depressão e a dor no peito e um poeta não chamaria essas coisas de falta de amor?
E nao sao essas coisas sine qua non ao ser humano, fizeram as coisas serem o que são? E se Napoleao tivesse tomado um Risperidon, que corta a ansiedade? E o que seria desse país se Dom Joao VI tivesse tomado um Volatil, que corta o medo na hora?



Eu vou expremer o caldo desse estado que eu tô até o final e não vou dar mais o braço a torcer. Ter perdido a fome, o sono e a sede trouxe-me mais disposiçao pra ensaiar e escrever. As coisas, `as vezes, tem sua razão de ser. O sono talvez suma nessas horas pra que você levante as costas tortas da cama e faça algo de sincero, de puro e de livre.


O homem novo inventa esses computoderes brancos entre uma refeiçao e outra, uma necessidade aqui, um banho ali e vai empurrando as coisas pra frente, depressa demais pra não morrrer e sempre devagar demais pra si mesmo.
Nos ensaios, vou tatuando esses parágrafos de texto em mim. Pontada por pontada. Cada caractere seria uma pontada. E se eu desse uma nuance `a cada caractere, sem virtuose? Conseguiria? Essa peça tem quantos caracteres? E se eu criasse um fantasma-secreto para cada caractere? O público não precisaria saber, o público nåo precisa saber de tudo.

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