15 de nov. de 2009

Destrança




Vou insistir. No outro. Endereçar essa carta. Pequenos toques de identificação vão me recuperar da vista. Vejo em você mais culpa do que nas outras pessoas. Você diz que não tem medo da morte mas tem medo de altura e eu nunca entendi. Está em alta esse seu jeito de ver a vida. Tenho passado tantos dias aqui dentro, que vocês todos viraram uma massa só, uma cortina de fumaça, um paredão. Você só foi o meu intento de prazer, o meu acesso fácil aos tamanhos do prazer. As tardes ficaram mais claras porque ganhamos uma hora, mais uma hora de vida. Você caminha pela vitório da costa, agora a félix pacheco, pensa naquele dia em que cheirou e chorou tanto que não conseguiu sair de casa, com medo de gente, lembra dos longes, se fecha em buracos de prazer, lembra dos pertos, do lepar cur, pequenos vôos, Esbarra em Clara, toques de pescoços, te pergunta as horas e diz que ainda dá tempo, você quer ir com ela , mas pensa no que vai ficar pra trás e agora já ficou mesmo, você, ela, você, você vai, você abre seu peito em nãos mas segue com ela, é isso, ela pode salvar o dia, você diz que o corpo todo está rígido por causa da cama mas ela nem nota, não disse, você pensa em voltar atrás, não quer mais ser ouvido, dizer que lembrou que tinha esquecido, escapulir, voltar ao buraco, ficar inteiramente só e seguro com seus pesos, pensa no tanto de cabelo branco e ela deve ter reparado, nas dívidas de Carmen, na confusão da rua no término do colégio, ela abriu a janela dos filhos antes de enfiar a cara no fogão, no difícil, o medo de buscar os exames, e em como as coisas teriam sido diferentes se, é isso, você vai escapar, a lagoa, você tem um percurso de pretexto, vai escapar para, Clara te atropela com anúncios de cobrança, diz como as coisas teriam sido diferentes se tudo tivesse corrido sem tranças. Tenta evitar pequenos motes mas não consegue. Pisa em vários freios que você nunca quis pisar, do medo de gente, por exemplo.

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